Bruno R. Sales
Durante
seus primeiros séculos, o Cristianismo se viu diante de um desafio, defender sua
fé dos ataques infames vindos por parte dos pagãos e, ao mesmo tempo,
demonstrar a validade de sua fé com argumentos racionais que sustentassem a
credibilidade dela. Esses eram os primórdios da teologia cristã, que logo se
desenvolveria e se transformaria num importante elemento de influência em todos
os âmbitos da sociedade pagã daquela época, desde os debates retóricos até os
grandes e diversificados problemas que surgiam no interior mesmo da religião
cristã, que deram origem a distintas ramificações que se dividiam em ortodoxia
e heterodoxia, sendo esta última as chamadas heresias.
Gregório Nazianzeno se encontra no séc. IV, já em meio às disputas entre os cristãos de fé nicena e os hereges eunomianos, macedonianos e apolinaristas, grupos cujas raízes se encontram em subdivisões de uma heresia mais abrangente: o Arianismo. Trata-se, então, da época do embate entre as doutrinas trinitiarianista do Concílio de Nicéia e os arianos, em suas categorias: homeusianos, homeos e os anomeus [1].
Nessas disputas, evidentemente, todos os grupos faziam uso da teologia para justificar seus argumentos e validar seu discurso diante da comunidade cristã como um todo. Contudo, nesse ínterim, Gregório decide colocar a questão: quem é o teólogo? E o que é a teologia? Fazendo isso, ele punha em dúvida os métodos dos intelectuais arianos e, simultaneamente, colocava as bases para os intelectuais ortodoxos de fé nicena. É dessa maneira que, “em seus cinco discursos teológicos, ele desenvolve uma série de ‘discursos sobre o método’. Discute as fontes da teologia, as características do teólogo, a ecclesia docens e a ecclesia discens, o objeto da teologia, o espírito da teologia, fé e razão” [2].
Esse texto pretende discorrer sobre as respostas dadas por Gregório às questões levantadas por ele mesmo. Para tanto, se faz oportuno esclarecer o que são os discursos e seus critérios de composição.
Os
discursos do Nazianzeno
Apesar de nascido no seio de uma
família cristã, Gregório teve uma educação embasada também no classicismo de
sua época. Esse fato, fez com ele creditasse grande estima à formação
intelectual, entretanto sob a condição de subordinar os valores morais e
estéticos à doutrina cristã. Isso se torna relevante, posto que em sua forma de
escrever saltam aos olhos os elementos clássicos de comunicação e redação de
discursos. Fato esse que lhe rendeu o título de “Demóstenes cristão”.
Os cinco discursos teológicos (Disc.
XXVII – XXXI) foram escritos durante seu governo em Constantinopla, então,
capital do Império Romano do Oriente. Seu estilo segue as diretivas do discurso
deliberativo, isto é, um pronunciamento onde se encontram o aconselhamento ou a
dissuasão a alguma prática [3]. Trata-se do discurso onde
a reflexão sobre a ação e suas consequências são parte do conteúdo discutido.
Contudo, não se limitava a isso, era necessário usar raciocínios que validassem
ou refutassem os comportamentos neles analisados, portanto, o discurso deveria
ser racional ao tempo que pragmático. Tudo isso sob a tutela da ars
rethorica, a retórica clássica que naquelas alturas tinha status de técnica
do discurso, da comunicação e da persuasão. O uso desse tipo de discurso é
propriamente devido sua praticidade, pois,
davam a Gregório
maior oportunidade para estabelecer sua habilidade retórica que os demais
escritos. Encontramos neles todos os artifícios da eloquência asiática –
figuras, imagens, antíteses, interjeições, frases cortadas – empregados com uma
abundância que ao leitor moderno parece excessiva [4].
Apesar de fazer uso das técnicas
empregadas pela retórica, Gregório, como cristão, não os usa mais que em sua
causa formal, ou seja, ele reproduz o modelo de composição do discurso corrente
em sua época, porém – graças à linguagem teológica – seus discursos tem uma
tonalidade homilética. “Ao concebê-los ele tinha a intenção que fossem homilias
edificantes. Referindo-se a exemplos, frases ou imagens da Bíblia, e em tudo
neles é considerado a luz da eternidade” [5]. Desse modo, os discursos
do Nazianzeno são constituídos da forma retórica de deliberação e da exortação homilética
do Cristianismo.
Graças a esse estilo retórico de
escrita e a segurança da fé cristã-nicena que professava, ele pôde compor
raciocínios habilidosos e sólidos contra a heresia ariana – particularmente
contra os eunomianos – que constituía a grande ameaça à ortodoxia naquele
período. Em seus escritos, Gregório “aplica-se a comentar a doutrina relativa à
natureza de Deus, isto é, o dogma ortodoxo da Trindade, que para ele representa
o miolo do Cristianismo e de toda religião” [6].
Os cinco discursos teológicos são dirigidos à comunidade cristã-nicena como exortação a manter-se na ortodoxia, porém acabaram por constituírem-se também numa provocação e refutação da argumentação herética dos arianos que, pelo testemunho dos discursos, se infiltravam nas celebrações em que eles eram pronunciados [7].
Nesses discursos, o Nazianzeno confessa sem reservas a crença na consubstancialidade das três hipóstasis divinas. Não somente isso, pelo seu estilo ele une fé e filosofia para demonstrar, por meio da argumentação lógica, a veracidade da fé que defende e invalidar os silogismos dos adversários doutrinais. Tais escritos formam um conjunto metódico de exposição da fé.
O primeiro (27)
arrola as pressuposições ou disposições interiores que se exigem daqueles que
ousam abordar as mais elevadas especulações teológicas, quais sejam: um grau de
maturidade espiritual, a pureza do coração e a reverência. O segundo (28)
pormenoriza a possibilidade e o alcance do nosso conhecimento de Deus. Os três
últimos (29-31) versam sobre o dogma da SS. Trindade [8].
As discussões sobre a Trindade faziam parte do cotidiano do círculo dos intelectuais cristãos de então, “em toda a parte, inclusive nas ruas e praças públicas, discutiam-se as mais difíceis questões trinitárias” [9]. Gregório não aprovava esse tipo de discussão irrefreada e desmedida sobre a mais importante declaração de fé cristã que é o dogma trinitário; não lhe agradavam as disputas dogmáticas quando desencadeadas fora dos redutos da teologia e dos teólogos que fossem competentes para isso [10].
Em função disso, Gregório colocou as seguintes questões sobre o ambiente em que se encontrava: quem é o teólogo? E o que é a teologia? Estas são as perguntas que fundamentam os dois primeiros discursos (Disc. XXVII - XXVIII). O primeiro é feito à maneira de uma introdução que desemboca no segundo no qual discorre sobre o conteúdo. Respectivamente, ele coloca os critérios sobre quem pode discutir sobre as verdades divinas, e qual é o objeto, o método e a disciplina que se propõe a isso – como já aludido acima.
O
teólogo e a teologia
O discurso 27, o primeiro dos cinco teológicos,
trata de responder à pergunta sobre quem, de fato, pode ser considerado
teólogo. Nele Gregório avalia as condições necessárias para que alguém tenha
competência em deliberar sobre as verdades reveladas da religião cristã. Esse
discurso divide-se em dois grandes blocos. A princípio ele estabelece que tipo
de linguagem deve ser utilizada para falar sobre Deus e as coisas a ele
relacionadas; em seguida situa quem é o teólogo e os critérios para que alguém
seja considerado assim. Contudo, antes do mais, o Nazianzeno coloca um
pressuposto:
Não é a qualquer um,
escuta-me bem, não é a qualquer que lhe corresponde falar de Deus. Não é isso
uma coisa que se adquire sob um preço baixo e que compete aos que rastejam
sobre a terra. Digo algo mais: não se pode fala sempre de Deus, nem com todos,
nem sob qualquer aspecto; se pode fazer em certas ocasiões, com certas pessoas
e em certa medida (Disc. XXVII,3) [11].
Com isso ele já repreendia as deliberações
desmedidas sobre os dogmas cristãos que aconteciam em qualquer lugar e baixo a
quaisquer aspectos, que tanto o incomodavam (como já aludido acima). Para
Gregório, portanto, o lugar para falar de Deus é no círculo teológico, usando
uma linguagem teológica, que significava, entre outras coisas, considerar a
Revelação de Deus. O “Demóstenes cristão” “se opõe a dar beligerância no
doutrinamento teológico aos que mantém critérios teóricos e práticos
contrapostos à revelação cristã” [12].
Tendo delimitado o ambiente no qual
se pode falar de Deus, Gregório define sobre quais categorias linguísticas se
deve fazer isso. Tais categorias se referem às regras mesmas do discurso
teológico, em suas palavras: “Falar misticamente das coisas místicas, e
santamente das coisas santas” (Disc. XXVII, 5) [13]. Esse modo místico de
falar consiste na aceitação do mistério tal como é, ou seja, incognoscível em
sua essência; paralelo a isso, reconhecer os limites dos raciocínios humanos
que não o alcança. De igual modo, a linguagem teológica caracteriza o teólogo
como alguém que não tem pretensão de querer esclarecer o inefável a qualquer
custo, suas discussões são limitadas entre aquilo que ele pode inteligir e
aquilo que Deus mesmo revela sobre si. Assim sendo, o teólogo é um homem de fé
que não reduz as verdades divinas a silogismos retóricos para vencer em
disputas intelectuais, como faziam os filósofos. À vista disso, ele escreve:
Porque é realmente
necessário dedicar-se ao estudo desinteressado para assim poder conhecer a Deus
e uma vez mais tenhamos encontrado ocasião propícia para julga a retidão da
teologia. E com quem se pode falar de Deus? Com aqueles que tomam o assunto a
sério e não como coisa qualquer, um objeto de diversão prazerosa depois das
corridas de cavalos, os teatros, as canções, as satisfações do ventre e do que
está abaixo do ventre; para estes, também a insistente conversa sobre tais
questões e a destreza das disputas dialéticas constituem um elemento de prazer
(Disc. XXVII, 3) [14].
Gregório pretende demonstrar que ser
teólogo, de certo modo, depende de intenções interiores, notadamente
espirituais; pois para ele o ofício do teólogo é resposta a uma vocação cristã [15]. Nessa empreitada é
fundamental tomar Deus como sujeito de relação e adoração, não meramente como objeto
de estudo ou para pretextos dialéticos de discussão filosófica. Em resumo, “ser
teólogo era, para o Nazianzeno, ser o ‘arauto de Deus’. Estimava que havia que
adquirir primeiro, por um itinerário claramente contemplativo e que conduz a
luz do conhecimento, uma competência real nas coisas divinas. Logo, pode-se
assumir uma função teológica, porém sem reduzir a teologia a uma técnica” [16]. Em função desse receio de
que a teologia se transformasse simplesmente em mais uma arma retórica – isto
é, elemento puramente técnico – escreveu o discurso 28 sobre a natureza da
teologia.
No segundo discurso (Disc. XXVII),
ele define a teologia e traça vias metodológicas para ela. Sua definição de
teologia é simples, refere-se ao estudo de Deus em si mesmo, à Unidade da
Trindade. Não à toa, logo no início acentua-se tal conceituação
[...] demos mais um
passo e vamos agora ao discurso da teologia. Coloquemos Deus à cabeça deste
discurso, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, que são seu objeto (Disc.
XXVIII, 1) [17].
A ciência teológica é, portanto,
voltada para Deus em sua mesmidade como objeto de estudo, enquanto ele
é, também, sujeito de relação e para o qual deve-se render adoração. Tendo isso
em vista, a ideia puramente retórica da teologia é refutada, e assim, o
Nazianzeno assegura ao saber teológico e suas discussões a ligação primordial à
fé cristã em sentido mais amplo, isto é, na fé pregada e vivida/testemunhada.
Apresentado a natureza da teologia, ele
coloca as bases de seu método teológico. Nesse discurso a metodologia é
apresentada como reconhecimento dos limites do homem, colocando de modo
evidente a corporeidade – pois Gregório carrega uma influência platônica nesse
quesito. Entretanto, a corporeidade, traduzida nos sentidos, não é de todo um
mal, pois, permite ao homem sentir a natureza à sua volta e, através da
natureza, ele pode ver as “costas de Deus” como Moisés (cf. Ex 33,23). Gregório
aponta, metaforicamente, a analogia ente.
Tal é, enquanto eu
conheço, a grandeza de Deus em suas criaturas e nas coisas produzidas e
governadas por ele... pois as costas de Deus é tudo o que se pode conhecer dele
após seus passos [...] Assim deves fazer teologia [...] (Disc. XXVIII, 3) [18].
Seguramente essa analogia ainda não
basta para a teologia, pois sua função é na verdade demarcar os limites da
razão. Mas, limites entre o quê? Entre o saber da existência de Deus e conhecer
a sua essência, isso porque “uma coisa é estar seguro de que algo existe e
outra muito distinta saber o que esse algo é” (Disc. XXXVIII, 5) [19]. Colocando essa barreira
sobre o saber o que Deus é, Gregório imobiliza certos discursos heréticos e
pagãos de seu tempo que tinham pretensão de saber sobre essência da divindade.
Em contraponto, coloca em curso uma teologia apofática (Disc. XXVIII, 7ss)
sobre a qual não tratarei aqui.
Ergue-se, então, a questão: se a
teologia é o conhecimento de Deus em si mesmo, como ela pode discutir sobre ele
se a razão não o alcança? Aqui entra o dado cristão: a Revelação. Através da
Revelação de Deus pelo seu Filho, o homem tem a possibilidade, não de conhecer
a substância mesma de Deus, mas seus planos e – o que era mais importante
nesses discursos – reconhecer que ele é Trindade e Unidade. Nesse ponto, o foco
se concentra na fé. Em outros termos, somada à analogia ente, a fé naquilo que
Deus diz de si mesmo por seu Filho, no Espírito Santo é condição sem a qual não
existe verdadeira teologia. Escreve Gregório:
Se tu, com o
pensamento, percorres o ar e todo o que concerne ao ar, poderás tocar comigo o
céu e as coisas celestes. Porém, se compreendestes realmente tua debilidade em
contato com as coisas que estão mais próximas de ti, e hás conhecido que a
razão consiste em reconhecer o que acima dela, para que não sejas completamente
terreno e estejas atado à terra, ignorando inclusive tua ignorância, deves
deixar-te guiar pela fé mais que pela razão (Disc. XXVIII, 28) [20].
O raciocínio do Nazianzeno sustenta que sem a
fé a teologia se transforma num trivial aparato discursivo como qualquer outro.
Uma mera técnica para debates entre intelectuais. Convém ressaltar, que
Gregório de modo algum é anti-intelectualista, ele apenas tentar impor limites
tanto à forma de se produzir teologia, como também a quem deve fazê-la. Para
tanto, aqueles que devem ser “ignorados” de fazer teologia “não são os simples,
mas os indignos. Somente a indignidade impossibilita a reflexão cristã. O
verdadeiro cristão, ainda que seja simples, pode fazer teologia porque tem o
essencial: a pureza de coração” [21].
Considerações
finais
A teologia e o teólogo são elementos
imprescindíveis na história do pensamento em geral, e de maneira específica nos
rumos do Cristianismo no curso do tempo. Essa é mais uma razão para se debruçar
no estudo sobre eles como o fizera Gregório Nazianzeno. A estes elementos
citados, o bispo capadócio recorda a prioridade de Deus diante da reflexão
sobre ele mesmo.
A vida desse Padre da Igreja pode ser resumida nos termos: fides quarens intellectum, ratio orationem quaerens, homo Deum quaerens – fé buscando entendimento, razão buscando oração, homem buscando Deus. E esses termos de vida pessoal ele passou para sua análise teológica, à sua metodologia e visão de mundo.
[1] O Arianismo negava
a consubstancialidade do Filho, segunda pessoa da Trindade, mas creditava a ele
somente a semelhança. As categorias ou subdivisões arianas surgiram a partir da
forma como estas se relacionavam com essa ideia. De tal modo, os homeusianos
aceitavam que havia semelhança entre a substância do Pai e do Filho, os homeos
apenas que essa semelhança dava somente segundo as Escrituras e os anomeus,
mais radicais, que pregavam a total dessemelhança das substâncias do Pai e do
Filho. [cf. NACIANCENO, Gregorio. Los cinco discursos teológicos.
Madrid, Ciudad Nueva, 1995. (Biblioteca patrística 30) Introducción. p. 25.]
[2] QUASTEN,
Johannes. Patrología I: La edad de oro de la patrística griega. Madrid.
Biblioteca de Autores Cristianos, 1977. p. 275-276.
[3] cf. ARISTÓTELES. Arte
retórica e arte poética. Rio de Janeiro, Ediouro; Editora Tecnoprint, 1990.
p. 47 – disponível in: https://pt.scribd.com/document/377756653/Arte-Retorica-e-Arte-Poetica-Aristoteles-pdf - acesso 05 fev
2022.
[4] QUASTEN,
Johannes. Patrología I: La edad de oro de la patrística griega. Madrid.
Biblioteca de Autores Cristianos, 1977. p. 265.
[5] CAMPENHAUSEN,
Hans Von. Los padres de la Iglesia I: Padres griegos. Madrid, Ediciones
Cristandad, 1974. p.131.
[6] Ibidem. p. 132.
[7] Sobre isso
Gregório mesmo é quem afirma num dos discursos: “que nossos espiões suportem a
nós nesse momento” (Disc. XXVII, 2)
[8] BOEHNER,
Philotheus; GILSON, Etienne. História da filosofia cristã: desde as
origens até Nicolau de Cusa. Petrópolis -RJ, Vozes, 2004. p. 81
[9] Ibidem. p. 80.
[10] cf. CAMPENHAUSEN,
Hans Von. Los padres de la Iglesia I: Padres griegos. Madrid, Ediciones
Cristandad, 1974. p.135.
[11] NACIANCENO,
Gregorio. Los cinco discursos teológicos. Madrid, Ciudad Nueva, 1995.
(Biblioteca patrística 30) p. 78.
[12] TREVIJANO, Ramón.
Patrología. Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1994. (Manuales de
teología) p. 202.
[13] NACIANCENO,
Gregorio. Los cinco discursos teológicos. Madrid, Ciudad Nueva, 1995.
(Biblioteca patrística 30) p. 82-83.
[14] Ibidem. p. 79.
[15] cf. Ibidem.
Introducción. p. 33.
[16] TREVIJANO, Ramón.
Patrología. Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1994. (Manuales de
teología) p. 201.
[17] NACIANCENO,
Gregorio. Los cinco discursos teológicos. Madrid, Ciudad Nueva, 1995.
(Biblioteca patrística 30) p. 93.
[18] Ibidem. p. 96-97.
[19] Ibidem.p. 99-100.
[20] Ibidem. p. 136.
[21] Ibidem.
Introducción, p. 32-33.