terça-feira, 16 de abril de 2024

A NECESSIDADE DA TEOLOGIA PARA A HUMANIDADE NA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO

 

Bruno R. Sales

Talvez uma das grandes perguntas feitas à teologia hoje é: qual a necessidade de haver estudos teológicos? Essa questão se firmou com vigor principalmente em decorrência das influências positivistas e tecnicistas, e por assim dizer, tendências epistemológicas de cunho puramente imanente. Estas influências veem a teologia como um discurso sem sentido e sem utilidade concreta para o sujeito e para a sociedade. Obviamente, consideram-na dessa maneira por desconsiderarem a base da teologia que é a fé em Deus-revelado. Essa questão não é tão nova quanto aparenta ser, na realidade, Tomás de Aquino perguntava sobre isso em sua Summa Theologia. No primeiro artigo de sua obra a primeira questão é sobre a necessidade da Teologia.

Em resposta, Tomás afirma que: “era necessário existir para a salvação do homem, além das disciplinas filosóficas que são pesquisadas pela razão humana, uma doutrina fundada na revelação divina” [1]. A perspectiva que essa afirmação apresenta é de caráter majoritariamente antropológico, isto é, a teologia não é uma ciência que serve ou é necessária apenas à Igreja [o que denotaria um caráter eclesiológico-dogmático], nem se trata de uma mera disciplina para aqueles que creem [caráter subjetivo-individual para a fé]. Ao contrário, sua necessidade é de todo homem, pois, Deus é questão de importância para toda a humanidade. De tal modo, sua referência se dá diretamente à salvação do homem, porque a teologia, longe de ser apenas um discurso sobre Deus, é a forma racional de conhecer as coisas que ultrapassam a razão humana, mas que não lhe nega oportunidade de contemplação delas. Desse modo, “era necessário para a salvação do homem que estas coisas que ultrapassam sua razão lhe fossem comunicadas por revelação divina” [2].

Tomás distingue duas teologias, porém, elas são distintas em gênero, mas não em objeto, ou seja, a objetividade da teologia é sempre a mesma, realidades supra-humanas e transcendentes, no entanto, se diferenciam por seus caminhos. A primeira é aquela que se realiza através das capacidades da Razão que o Aquinate chama de Teologia Natural, trata-se das ciências filosóficas. A segunda, por sua vez, é baseada na revelação divina, e por isso é chamada de Teologia revelada ou Doutrina Sagrada.

De acordo com o autor da Suma, esta última tem um escopo maior que a primeira, pois “mesmo com relação ao que a razão humana pode pesquisar a respeito de Deus, era preciso que o homem fosse também instruído por revelação divina” [3].  De tal modo, o Aquinate trata a teologia natural como praeambula fidei, enquanto aquela que prepara para a apreensão de realidades maiores, não obstante a teologia revelada é tratada como intelecttus fidei, isto é, aquela que busca compreender as verdades divinas reveladas pelo próprio Deus para a salvação do homem.

Seguindo isso, a teologia revelada tem como pressuposto a fé, ao contrário da teologia puramente natural que tem a razão como elemento preliminar. A fé é pressuposta porque “o que é revelado por Deus, deve-se acolher na fé” [4].

                                        

 




[1] Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, q. 1. a. 1, resp.

[2] Ib. Ibd.

[3] Ib. Ibd.

[4] Tomás de Aquino. Suma Teológica.  I, q. 1. a. 1, sol. 1.

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