Pedro Henrique M. F. Silva
Introdução
A teoria crítica
revela e expressa a profunda crise teórica do séc. XX, refletindo sobre seus
problemas com muita radicalidade, sem precedentes. Vinculam-se ao marxismo não
só do ponto de vista econômico, mas, especialmente científico, isto é, a partir
da cosmovisão e do método de trabalho e análise. A crítica feita pelos
frankfurtianos é uma “teoria social do conhecimento”. É interessante notar que,
devido a vastidão de perspectivas sobre as quais os teóricos de Frankfurt se
debruçam, é difícil classificar essa escola do ponto de vista convencional. O
ponto de partida dos pensadores, em especial, Adorno e Hockheimer, é a lógica
de que tudo se torna consumível: teorias, bens culturais, pessoas; haja vista
que sua postura se funda muito mais em uma análise crítica da sociedade com
seus problemas naquele contexto.
Entretanto, é possível perceber que um dos temas que mais povoam o labor intelectual dos frankfurtianos é a questão da arte e toda sua relação política e social, bem como a dimensão cientifica e sua instrumentalização. A cultura de massas não seria nem uma cultura enquanto tal e nem produzida: é apenas uma oferta de fácil captação e aceitação, seu “benefício” é a eliminação de toda e qualquer complexidade que peça esforço intelectivo e reflexivo. A arte seria, portanto, o veículo de aproximação mais efetivo entre as massas e a classe dominante, o status quo que movimenta e aliena a sociedade. Vale a pena ressaltar que, os grandes nomes desta escola são: Walter Benjamim, Theodor Adorno, Max Hockheimer, Hebert Macuse, Erick Froom e mais recentemente, apontado com um herdeiro destes últimos, Jurgen Habermas.
A escola de Frankfurt: Contexto
Histórico.
A Escola de
Frankfurt surgiu a partir do Instituto para pesquisa social, fundado na cidade
alemã acima citada, em 1923. Teve por primeiro diretor Carl Grünberg que
orienta e impulsiona o desenvolvimento de pesquisas e estudos acerca do
socialismo, dos movimentos operários e da história econômica, já que havia uma
forte abertura da população da cidade citada, para as teorias comunistas e
socialistas.
A partir de 1931, Max
Horkheimer assume a direção institucional e passa, paulatinamente, a modificar
o campo de estudos para dimensões mais ligadas a atualidade, o que permite a
entrada de novos e importantes membros como: Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Erich
Fromm, formando assim o núcleo primeiro desta escola. Esses pensadores têm por
objetivo oferecerem uma crítica social da modernidade, com especial ênfase na
questão da cultura, apoiados teoricamente em Marx, Nietzsche e Freud, autores
extremamente responsáveis pela mudança de paradigma na forma de visão de homem,
da sociedade, da política e economia de então.
Entre
Esclarecimento e Barbárie: a crítica presente na dialética do esclarecimento.
Os intelectuais de Frankfurt, a partir da
teoria crítica, se propõe a oferecer uma análise ampla da sociedade, a partir
da unidade entre as diversas análises dos estudiosos em suas mais diversas
áreas, como se afirma que:
os
frankfurtianos trataram de um leque de assuntos que compreendia desde os
processos civilizadores modernos e o destino do ser humano na era da técnica
até a política, a arte, a música, a literatura e a vida cotidiana. Dentro
desses temas e de forma original é que vieram a descobrir a crescente
importância dos fenômenos de mídia e da cultura de mercado na formação do modo
de vida contemporâneo [1].
É a partir desses
estudos que dois dos mais célebres estudiosos da escola vão propor a análise
crítica do chamado “Esclarecimento”, proposto pelos pensadores
Iluministas. Ela se encontra no livro “Dialética
do esclarecimento ou das Luzes” produzido por Adorno e Horkheimer, lançado em
1944 e produzido dentro do contexto da 2° guerra mundial.
Nesse livro os
autores se propõem a analisar o porquê cadê vez mais a humanidade está envolta
na barbárie ao invés de realizar sociedade mais humana, de maneira plena. Para
uma melhor compreensão disso, é necessário esclarecer o que se compreende por
esclarecimento.
A mais famosa definição sobre esse tema se
deve a Kant que, caracteriza esse momento como uma emancipação humana, isto é,
a saída do homem do estágio de submissão a outros detentores de poderes e
manipuladores do pensamento, para uma dimensão de maioridade, onde o homem usa
da sua própria razão sem precisar de outro que o oriente.
Por isso, há a
grande troca de paradigmas entre o elemento mítico/Religioso para a dimensão
científica. Neste sentido, é também importante perceber a ideia que perpassa
todo esse movimento: Do progresso da razão. Seria ele, a coluna basilar para o
bom êxito da proposta Iluminista.
Entretanto,
observam os pensadores Frankfurtianos, a medida em que o tão difundido
“esclarecimento” avança, ainda perduram as tragédias, barbáries e catástrofes.
Quanto mais desenvolvimentos nessa linha, mais formas de submissão surgem em
distintas modalidades e formas, como é dito abaixo:
Desde que o Aufklärung existe no sentido mais amplo, o de um pensamento em ação, ele procura libertar os homens do medo e fazer deles seus senhores. Mas a terra que passou dominada completamente pelo Aufklärung brilha sob o signo da catástrofe completa [2].
Desse primado da razão e da ciência é que vão se desenrolar os processos de ampliação da técnica, o desenvolvimento de uma visão de mundo muito centrada no cálculo e na classificação, na qual a natureza e os próprios homens são percebidos do ponto de vista da manipulação e experimentação.
A Indústria Cultural: A arte
consumível
Com o avanço da
industrialização, tal percepção se torna ainda mais forte e expressiva. Logo, é
a partir dessas análises e constatações que os Filósofos Adorno e Horkheimer
elaboram um conceito célebre e importante para a escola de Frankfurt, que diz respeitoà
chamada Indústria cultural, isto é, um convite a olhar a questão técnica em
paralelo com a arte. Essa primeira não é algo imutável, mas, histórico e,
portanto, construído ao longo do tempo.
A partir foi dito,
é passível de mudança de acordo com o sistema social, especialmente dentro do
padrão racional em que se encontra dominada a sociedade. Assim, a arte passa a
ser sacrificada em favor dessa tecnificação social vigente e que acontece pelo
fato de favorecer a uma classe dominante.
Logo, pela técnica, a arte se torna objeto de
exploração comercial, simples negócios. É necessário clarificar que a
“Indústria cultural” pensada por adorno, não se liga ao termo das “culturas de
massa”, pois este, ao usar o termo ‘cultura’ parece querer afirmar uma certa
origem espontânea na massificação dos bens culturais. Numa perspectiva de uma
“antropologia do consumo”, a indústria cultural não só visa ‘adaptar’ os
consumidores ao consumo, mas, estabelece-o.
Dessa maneira, a
visão de homem cai na linha de mero interesse consumista e a humanidade é
reduzida a sua obediente seguidora. Ao se aliar com a ideologia dominante a
indústria cultural cria uma falsa relação dos homens entre si e com a natureza,
gerando o efeito contrário àquilo que propunha o iluminismo; é uma razão que se
deixa instrumentalizar. Se o iluminismo se propusera a libertar o homem do
poder dominante do mito, agora, este, se deixa absorver pela dominação técnica.
A partir dessa
mudança tão forte, a própria subjetividade é atingida e colocada dentro desses
padrões de consumismo. Observa Adorno, que essa dominação tem principalmente a
capacidade de conter a formulação de um pensamento autônomo e independente nas
massas; ele observa isso a partir da própria dimensão do descanso e lazer. Não
são mais determinados em função de algo natural, inerente ao ser humano, mas,
em ligação ao trabalho, ou seja, o homem se ausenta do labor mecanizado para
repor forças e ter disposição na sua continuidade.
Um outro ponto no
qual essa exploração cultural penetra é a determinação do que se usar e
consumir no tempo livre. O ser humano não usa mais este para pensar,
desenvolver e maturar uma consciência, mas, para viver uma espécie de
anestesiamento social e projeção ideal, onde a vida parece imitar o que se
passa nas telas de cinema ou em outros mecanismos do tipo e não o contrário.
Para melhor
fundamentar essas perspectivas os teóricos tomam por ponto focal de análise a
música: ela cai na cilada da padronização. Isto é, para que seja vendida com
mais intensidade se faz preciso um padrão que já seja familiar e garanta a esta
o sucesso do consumo, cuja oferta e interpretação sejam mínimas e não produzam agitações
de pensamento e reflexão. Logo, as artes sucumbiram a essa armadilha montada
pela sociedade de compra e venda
Ao mesmo tempo, essa indústria vai conduzindo o homem a um permanente desejo que se configura na aceitação do que lhe é oferecido; é ela quem cria as necessidades, determina até que prazos tal coisa tem sua valia, e a ideia de progresso acaba sendo entendida como a satisfação desse desejo de posse incutido nas pessoas. Nesse sentido, o consumismo ofertado pela indústria cultural é uma regressão: Induz o ser humano a uma espécie de estado de barbárie, ausente da ótica de educação, onde o homem reflete, pensa e analisa: a si mesmo, o meio e o universo.
Considerações finais
Portanto, para
Adorno e Horkheimer a solução está no desenvolvimento de um olhar crítico da
sociedade em que se insere, como fator para um desenvolvimento mais humano,
ético e menos centrado no consumo. Analisar, estudar e ler os acontecimentos da
sociedade podem ser chaves importantes para a superação das distorções vindas
da mentalidade de consumo.
Nesse sentido, as
teorias da escola de Frankfurt são de grande lucidez para uma leitura
necessária da sociedade atual. Embora tenham sido formuladas no início do
desenvolvimento tecnológico, elas falam muito apropriadamente ao momento em que
nós estamos e que demanda, mais do que nunca, uma criticidade ainda mais
aguçada e inquieta.
[1] MONGENDORFF, Janine Regina. A
Escola de Frankfurt e seu legado. Porto Alegre: Verso e Reverso,
XXVI(63):152-159, setembro-dezembro 2012.
[2] Wiggershaus apud. MONGENDORFF,
Janine Regina. A Escola de Frankfurt e seu legado. Porto Alegre: Verso e
Reverso, XXVI(63):152-159, setembro-dezembro 2012. p. 358