Bruno R. Sales
Talvez uma das grandes
perguntas feitas à teologia hoje é: qual a necessidade de haver estudos
teológicos? Essa questão se firmou com vigor principalmente em decorrência das
influências positivistas e tecnicistas, e por assim dizer, tendências
epistemológicas de cunho puramente imanente. Estas influências veem a teologia
como um discurso sem sentido e sem utilidade concreta para o sujeito e para a
sociedade. Obviamente, consideram-na dessa maneira por desconsiderarem a base
da teologia que é a fé em Deus-revelado. Essa questão não é tão nova quanto
aparenta ser, na realidade, Tomás de Aquino perguntava sobre isso em sua Summa Theologia. No primeiro artigo de sua obra a primeira questão é sobre a necessidade da Teologia.
Em resposta, Tomás afirma
que: “era necessário existir para a salvação do homem, além das disciplinas
filosóficas que são pesquisadas pela razão humana, uma doutrina fundada na
revelação divina” [1]. A perspectiva que essa
afirmação apresenta é de caráter majoritariamente antropológico, isto é, a
teologia não é uma ciência que serve ou é necessária apenas à Igreja [o que
denotaria um caráter eclesiológico-dogmático], nem se trata de uma mera disciplina
para aqueles que creem [caráter subjetivo-individual para a fé]. Ao contrário,
sua necessidade é de todo homem, pois, Deus é questão de importância para toda
a humanidade. De tal modo, sua referência se dá diretamente à salvação do
homem, porque a teologia, longe de ser apenas um discurso sobre Deus, é a forma
racional de conhecer as coisas que ultrapassam a razão humana, mas que não lhe
nega oportunidade de contemplação delas. Desse modo, “era
necessário para a salvação do homem que estas coisas que ultrapassam sua razão
lhe fossem comunicadas por revelação divina” [2].
Tomás distingue duas
teologias, porém, elas são distintas em gênero, mas não em objeto, ou seja, a
objetividade da teologia é sempre a mesma, realidades supra-humanas e
transcendentes, no entanto, se diferenciam por seus caminhos. A primeira é
aquela que se realiza através das capacidades da Razão que o Aquinate chama de
Teologia Natural, trata-se das ciências filosóficas. A segunda, por sua vez, é
baseada na revelação divina, e por isso é chamada de Teologia revelada ou
Doutrina Sagrada.
De acordo com o autor da
Suma, esta última tem um escopo maior que a primeira, pois “mesmo com relação
ao que a razão humana pode pesquisar a respeito de Deus, era preciso que o
homem fosse também instruído por revelação divina” [3]. De tal modo, o Aquinate trata a teologia
natural como praeambula fidei,
enquanto aquela que prepara para a apreensão de realidades maiores, não
obstante a teologia revelada é tratada como intelecttus
fidei, isto é, aquela que busca compreender as verdades divinas reveladas
pelo próprio Deus para a salvação do homem.
Seguindo isso, a teologia
revelada tem como pressuposto a fé, ao contrário da teologia puramente natural
que tem a razão como elemento preliminar. A fé é pressuposta porque “o que é
revelado por Deus, deve-se acolher na fé” [4].